Capítulo 21
1915palavras
2022-12-11 07:02
Ela sentou-se do outro lado dele, sem cerimônia.
- Vai mesmo ficar aqui? – ele perguntou à ela.
- Sim... – ela colocou a cabeça para frente e me encarou, depois sorrindo. – Se tem uma coisa que eu faço bem é não desistir, Sam.

Acho que eu estava atrapalhando os planos dela, assim como “Sam” atrapalhou os meus há alguns minutos atrás.
- Se quiserem... Eu posso sair. – falei sem cerimônia.
- Não! – ele disse. – Você fica. Acho que Isabella que precisa sair.
- No que eu incomodo? – ela deu de ombros, dando um gole na bebida dele e fazendo uma careta. – Isso é horrível... É bebida de mulher. Desde quando você bebe isso, Sam?
Olhei confusa para eles. Eu me sentia incomodada com ela e a forma como me encarava: um misto de raiva e ironia.
- Você já tomou cerveja, garota? – ela me perguntou.

- Satini. – eu respondi.
- Então... Já bebeu cerveja?
- Eu... Não quero beber mais nada. – empurrei minha taça. – Acho que está na hora de eu voltar para casa.
Levantei e saí e Samuel veio atrás de mim:

- Espere, Satini. Aonde você vai? Como voltará para casa, se Alexander está dormindo?
- Eu... Dou um jeito. – falei já arrependida de ter apagado Alexander.
Os planos não saíram como o esperado e eu percebi que nem tudo poderia ser sempre como eu planejava. Não planejei encontrar Estevan ali, muito menos naquele dia... E assim foi. Não planejei deixá-lo partir e ele se foi... Não planejei encerrar a noite arrependida de ter dopado meu guarda-costas, o homem de confiança do meu pai, meu amigo de infância. Os planos era me divertir, conhecer a Coroa Quebrada através de Samuel e ter minha experiência vivida para poder ser a rainha. Mas nada era assim... Nem seria. Como eu estava enganada a respeito de tudo.
Ele pegou meu braço e me fez virar para ele:
- Satini, eu não tenho nada com Isabella.
- E você não me deve satisfações, Samuel. Está tudo bem.
- Você não veio até aqui, longe de tudo que você conhece para ir embora pouco mais de uma hora depois. Ou você se interessou realmente por mim quando nos conhecemos, ou... – ele me encarou com seus olhos verdes penetrantes.
- Ou... Eu só vim porque tenho interesse em conhecer o seu mundo.
Ele sorriu ironicamente:
- O meu mundo? O que é o meu mundo para você, Satini Kane?
- A Coroa Quebrada. – confessei.
- E eu que achei que estava interessada em mim...
- Você é muito convencido, Samuel.
- Não tenho motivos para isso? – ele sorriu sedutoramente.
- Eu... Não... – falei tentando não transparecer que eu o achava bonito e sedutor.
Ele se virou e saiu. Eu fui atrás dele:
- Ei, onde você vai?
- Você não iria embora? Pode ir.
Agora eu puxei o braço dele, percebendo que logo adiante dali Isabella nos observava atentamente.
- O que houve com você? – perguntei.
- Se depender de mim, você jamais conhecerá a Coroa Quebrada.
- Por que não?
- Porque você não pertence ao meu mundo, Satini. E porque a Coroa Quebrada não é um local turístico, onde se leva garotinhas mimadas que nunca viram o mundo fora das proximidades do castelo de Avalon.
- Você nem me conhece, Samuel... Como pode falar isso de mim?
- E você me conhece, Satini? Ou acha que porque viu a tatuagem no meu peito eu levaria você até lá? Acha mesmo que e a Coroa Quebrada é um brinquedo, um parque de diversões, um local para matar sua curiosidade?
- Samuel... Eu não quis ofendê-lo... Você me fez uma pergunta e eu fui sincera. Deveria ter dito que tinha interesse em você? Esta seria a resposta certa?
- Quem sabe... Agora não importa mais.
- Eu não vou ser mais uma na sua lista de levar para casa depois dos shows... Muito menos uma de suas “ex futuras” namoradas. Qual seu real interesse em mim se me mostrar seu mundo nunca esteve nos planos?
Ele arqueou as sobrancelhas:
- Hum, agora estou conhecendo a verdadeira Satini Kane... Venha comigo.
Ele me pegou pelo braço e desta vez não foi muito gentil como antes.
- Onde você está me levando? – perguntei preocupada.
- Onde você queria, princesa.
- Por que me chama de princesa?
- Por que se incomoda tanto? – ele me olhou. – Se acha mesmo uma princesa? Aqui você não é... Acredite. E se realmente fosse, estaria morta. E garanto que pelas minhas próprias mãos.
Quem era Samuel Leeter? Onde estava o garoto gentil e com um sorriso encantador que tocava guitarra enquanto me olhava docemente? Tudo isso por que eu pedi que ele me levasse a Coroa Quebrada? O que tinha lá que eu não podia ver? Senti meu sangue ferver e pela primeira vez tive medo... Muito medo. Também arrependimento duplo: por ter saído do castelo e por ter dopado Alexander. Eu não conhecia aquelas pessoas... E eu fingia ser quem eu não era. Eu não pertencia aquele mundo e não sabia do que eles eram capazes.
Passamos por trás do palco e havia um corredor pouco iluminado. Ele abriu uma porta e encontrei Mia, finalmente, numa espécie de quarto com Théo. O local tinha uma cama grande, embora não comportasse duas pessoas. Um sofá pequeno, um aparador com algumas bebidas e um pequeno frigobar num canto. Fiquei um pouco surpresa de encontrar Mia deitada na cama, aos beijos com seu... Não sei exatamente o que ele era dela. Por sorte os dois estavam de roupa.
Quando ela me viu, deu um salto, sentando na cama e ficando vermelha. Théo, por sua vez, estava com parte do abdômen descoberto pela camisa levantada e tinha um volume enorme por dentro das suas calças. Eu virei e fechei meus olhos.
- O que... Você está fazendo aqui? – ele perguntou para Samuel.
- Al... – disse Mia quase escapando a palavra que significa a minha morte: “alteza”. – Satini... O que... Houve?
Samuel começou a rir e disse:
- Está tudo bem... Só vim mostrar para Satini que estava tudo bem com a amiga dela. Ela estava bem preocupada. – ele ironizou me olhando e eu fiquei completamente desconsertada.
- Precisamos ir? – ela me perguntou. Eu continuei de costas. Não queria de forma alguma ver o que eu havia visto antes...
- Na verdade não, Mia. Sua amiguinha aqui fez seu irmão dormir. – explicou Samuel. – Então, teoricamente, vocês nem tem como sair daqui.
- Como assim? – Mia perguntou confusa.
- Ela deu boa noite Cinderela ao seu querido irmão.
- Ela o que? – Mia perguntou atônita.
Ouvi a gargalhada de Théo.
- Sua amiga é mais inteligente que nós, Mia. Jamais eu teria pensado em apagar o seu irmão.
- Satini... Alexander vai matar você.
Eu me virei para eles e disse:
- Acha que de uma forma ou de outra eu estaria morta, Mia.
- Como vamos embora? Quanto tempo dura o efeito disto? – ela ficou preocupada.
- Quantos comprimidos você deu a ele? – perguntou Samuel.
- Dois.
- Não acorda até o meio-dia pelo menos.
- E... Amanhã é domingo. – disse Mia com os olhos arregalados.
Respirei fundo e tentei me acalmar. Eu não tinha como pedir ajuda à ninguém, pois não poderiam saber onde eu morava de forma alguma, ou saberiam toda a verdade.
- Podemos levá-las. – disse Théo.
- Não! – nós duas falamos ao mesmo tempo.
- Bem... Então pelo visto, não há muito o que fazer, princesa. Ou deixa Théo e Mia aproveitarem a noite e me atura... Ou fica na rua esperando seu irmão que não é irmão acordar do sono profundo no qual você o colocou. – disse Samuel.
- Mia... Eu vou... Pegar um pouco de ar. Estou ficando sufocada aqui dentro. – falei.
- Satini, eu vou com você. – ela falou levantando.
- Não... Não precisa.
Ela levantou igual e veio até mim.
- Théo... Será que você poderia me deixar um pouco a sós com minha amiga? Um minuto... Por favor.
- Claro. – ele disse levantando e levando Samuel a contragosto para fora, fechando a porta.
- Satini, você está louca? – ela me perguntou baixinho, para não sermos ouvidas.
- O que vamos fazer sem Alexander? Eu vou perder o almoço e estarei literalmente morta ao fim do domingo. Meu pai vai encerrar minha aventura por Avalon e talvez demitir seu irmão, que não fez nada de errado. Ele será punido por minha culpa. Léia nunca vai me perdoar... E...
Ela pegou nos meus ombros e me balançou levemente, me levando a olhar nos olhos dela.
- Vai ficar tudo bem, Satini.
- Não... Não vai mesmo. Samuel mudou completamente de atitude comigo... Depois de eu ter pedido para conhecer a Coroa Quebrada.
- Satini, olhe para mim. – ela disse seriamente.
Eu olhei seriamente para ela, curiosa. Mia sempre foi muito sensata, até mais do que eu, então sim, eu levava muito em conta o que ela dizia.
- Satini... Samuel é quem comanda a Coroa Quebrada. – ela falou quase no meu ouvido. – Ele é o rei...
- Como assim o rei? – perguntei confusa.
- Não tenho como lhe dizer aqui... Mas ele é o seu passaporte se quiser continuar com a loucura de entrar lá.
- Eu... Imaginei que ele fosse o passaporte... Mas não que ele fosse o rei do lugar. Não acha que ele é muito jovem para liderar meio reino de Avalon?
- Não sei dizer... Entendo pouco sobre a Coroa Quebrada. Mas que é seu novo amigo que manda lá, isso eu tenho certeza.
E eu fui dizer do meu interesse no lugar para ele. Por que fui abrir a minha boca? Ele ficou completamente mudado quando soube que eu queria conhecer a Coroa Quebrada. Mas tudo foi culpa daquela garota...
- Ele... Tem uma ex namorada que está lá fora, no bar. Ela é simplesmente insuportável. – falei.
Ela riu:
- Está com ciúme.
- Não... Realmente não estou. Mas ela foi muito hostil comigo e...
- E...
- Mia, eu encontrei Estevan.
- Estevan? Onde? Aqui?
- Na rua.
- Satini... Alexander vai nos matar quando acordar. Você encontrou Estevan justo aqui? E agora sabe que Samuel é tudo que você precisa. Algo mais que não tenha encontrado, princesa? – ela riu. – Aventura, perigo de morte, paixão, inimigos...
- Eu só queria o sorvete de casquinha na praça. – brinquei.
- Tarde demais, Satini. Não acho que alguém te dará o sorvete de casquinha.
- Mia, aproveite. Não sei se sairemos novamente depois de tudo que aconteceu hoje. Se Alexander não me matar, meu pai o fará, acredite.
- Eu... Estou apaixonada. – ela disse.
Eu ri:
- Então... Aproveite, minha amiga.
- Você vai ficar bem, Satini?
- Vou... E depois eu me entendo com Alexander, pode deixar.
Eu não sabia exatamente o que eu faria com Alexander, muito menos se conseguiria chegar no castelo a tempo para o almoço de domingo com meu pai. Nem como eu me justificaria para ele. Eu estava literalmente sem um plano, sem ter certeza de nada. Mas uma coisa eu sabia: Mia estava tendo sua noite feliz. E pelo menos uma de nós precisava ter felicidade, pois não sabíamos como seria quando o domingo acabasse.