Assim que chegamos na garagem, vi o Maserati estacionado. O carro de Anon não estava ao lado.
Paramos na frente do carro prata/claro, com design perfeito:
- Não me diga que vamos no Maserati! – Senti meu coração querer pular para fora do peito.
- Sim. – Ele sorriu.
Não resisti e dei alguns pulos eufóricos:
- Eu estou em êxtase. – Confessei, indo até a porta do carona.
Antes que eu abrisse, ele disse:
- Ei, desclassificada... Quer dirigir?
- Eu? Não tenho habilitação. – Suspirei tristemente.
- Quem disse que precisa?
- A polícia? – Enruguei a testa.
- O que você imagina que a policia acharia pior na direção: um bêbado ou uma pessoa sem habilitação?
- Você não está mais tão bêbado.
- E você deve saber dirigir, estou certo?
- Sim...
Antes que eu dissesse qualquer coisa, ele jogou a chave por cima do automóvel, que aparei no ar, sorrindo sem perceber, de tão eufórica que eu estava.
Dei a volta e entrei no Maserati, sentindo as pernas bambas. Era madrugada e eu estava com Heitor Casanova no carro dele, indo ver Allan no hospital. Deus... Mais uma loucura para conta.
- E se formos presos novamente? Não somos mais primários... Ao menos eu não. E por culpa sua, por assim dizer.
- Ninguém mandou riscar nosso carro valiosíssimo.
“Nosso”? Jura? Olhei para os lados, sem a mínima possibilidade de colherinhas aparecerem.
Caralho, eu era uma louca mesmo. Precisava voltar. Ben estava com Maria Lua e ele tinha que pegar um avião em poucas horas.
- Bem, pelo menos não vai haver ato obsceno em público. – Comecei a rir.
- Não mesmo. Não em público. – Me olhou de forma debochada.
Mordi o canto do lábio, sentindo o corpo queimar:
- Quem teria vontade de transar com uma mulher com estas roupas? – Olhei para meu corpo, usando as peças que havia encontrado no armário dele.
- Eu não transo com você, Bárbara. Eu...
- Faz amor. – Completei, tocando seu rosto, descendo pelo queixo, chegando ao peito, espalmando seu abdômen. – E você é o “meu amor”.
- Consegue dizer isso! Palavras não são mais um problema para você?
- Não. Eu poderia dizer que amo você por um dia inteiro – sorri – Mas tenho medo de você esquecer, caso o dia seja hoje.
- Eu já estou bem... Ou melhor, depois que ouvi você falar sobre bebês, temi estar ainda mais bêbado.
Respirei fundo:
- Não falei sobre “bebês”. Falei sobre “a bebê”. Não esqueça desta parte, Heitor.
- De suas brincadeiras de duplo sentido?
Suspirei:
- Como posso convencê-lo de que não está bêbado?
- Achei ter ouvido você dizer que eu estava.
- Eu não menti.
Ele me olhou seriamente:
- Bárbara, não tente me enganar, ok? Isso acabaria com a gente... Para sempre. Eu odeio mentiras.
Retirei minha mão dele, colocando-a no volante, sentindo meu coração acelerar. Eu tentei dizer a verdade, mas se ela foi difícil até para mim, imagine para ele. Precisava ir com calma.
Eu teria que realmente esperar a segunda-feira. Precisaria trazer Ben e todas as provas que eu tinha. Ou ele acharia que estava sendo enganado.
- Por que ficou tensa?
- Ei... Como ligo esta porra? – perguntei, tentando encontrar a parte de colocar a chave no painel de comando e mudando de assunto – Precisamos ir... Nem sabemos ainda como Allan está.
Ele apertou um botão digital quase embaixo do volante e o carro ligou. Senti minhas pernas trêmulas.
- Tome cuidado, pois ele vai de 0 a 100 km/h em 5,3 segundos.
- Caralho! – gritei. – Digo... Oh!!! Quanta potência!
- Não viu nada, desclassificada. – Ele pôs minha mão dentro da sua calça.
Me remexi no banco, o carro ainda ligado, apertando seu pau excitado entre meus dedos, deixando-o duro em segundos:
- Acho que sinto uma potência aqui que consegue este recorde em menos que 5 segundos.
- Só com você dirigindo... – Ele disse com a voz rouca, deslizando um pouco no banco.
- Gosto deste tipo de calça em você... Mais larga – gemi levemente – Facilita meu toque...
- Mãos quentes... Perfeitas.
- Porque não sentiu minha boca. – Provoquei.
- Daria um rim por isso. – Me encarou, sarcástico.
- Com quem está aprendendo estas loucuras, desclassificado?
- Com a mulher que virou minha vida de cabeça para baixo.
- Nem comecei ainda, meu amor! Não sabe o que é vida de cabeça para baixo. – Apertei a cabeça de seu pau delicadamente.
- Se insônia, brochar e pensamentos permanentes numa única pessoa não é uma vida de cabeça para baixo, não sei o que é.
Eu sorri, retirando seu pau convidativo para fora da calça:
- Conheço um raio de sol com carne e boca que vira qualquer coisa de cabeça para baixo... E faz “eu” brochar – Coloquei a calça de volta ao lugar, deixando seu membro ereto sob ela, repousando minha cabeça no encosto do banco. – Precisamos ir, Heitor.
- Vai me deixar assim? Não pode ser verdade.
- Juro que não foi de propósito.
Olhei para a direita:
- Ok, câmbio automático... – coloquei o pé no pedal – Sabe que nunca dirigi um carro automático?
- Você já dirigiu alguma coisa? Porque olha o que aconteceu com a moto. – Ele me encarou, amedrontado.
- Ah, você está bêbado... Nem vai perceber como chegou ao hospital. Mas posso apostar que quando falar com seu pai, estará sóbrio, não é mesmo?
- Com certeza. Sou só um louco que deixa você fazer o que quer comigo... Inclusive tentar me matar.
- Dois pedais – me certifiquei, olhando para baixo – Um acelera e outro freia, estou certa?
- Sim – ele me olhou – Nunca uma ereção começou e terminou tão rápido na minha vida. E só você é capaz de fazer isso... Me levar ao céu e ao inferno em segundos, Bárbara Novaes.
Acionei a ré e pisei vagarosamente, sentindo o carro mover-se de forma lenta. Girei a direção e acionei a dianteira.
- Preparado? – Perguntei, olhando seriamente para ele.
- Não... Você vai me matar.
- Estou perguntando se está preparado para ver o seu pai, desclassificado – comecei a rir – Sou segura quanto a minha habilidade em dirigir um Maserati automático pela primeira vez ao lado do CEO mais importante de Noriah Norte.
- Só tenho 31 anos... – Ele continuou reclamando enquanto eu seguia devagar, descendo a rampa do estacionamento.
- Sabe, Heitor, minha mãe era uma boa motorista. Ótima, na verdade. E ela morreu num acidente de trânsito. O homem que dirigia o caminhão dormiu na direção e trocou de pista, surpreendendo-a de frente. Ele alegou que dirigiu por mais de 24 horas sem descansar porque queria imensamente voltar para casa, louco de saudade da família. E por ironia, destruiu uma...
- Eu... Sinto muito. – Tocou minha mão no volante, carinhosamente.
- Tem coisas que não consigo encontrar explicações.
- Perdi minha mãe cedo também. Sei o que é este sentimento. Se não fosse Nic, eu não teria sabido o que era o afeto materno.
- Seu pai amava sua mãe?
- Eu creio que sim. Pelo menos ele afirma isso.
- Ele era fiel? Os dois se davam bem?
Heitor me olhou, confuso:
- Eu... Não sei. Não me preocupava muito com isso. Tinha apenas 6 anos quando ela morreu.
- Eu pude aproveitar um tempo mais que isso com a minha. Tinha 16 quando tudo aconteceu. Seu pai foi legal com você quando ela se foi?
- Não. Se fechou completamente no mundinho dele... Fora da nossa casa.
- E... A North B. já existia?
- Não. Mas ele já iniciava o negócio e em pouco tempo a transformou na potência que é hoje. Tudo fruto do próprio esforço e trabalho. Mas deixou um filho nas mãos de uma estranha.
- Ela não era uma estranha. Cuidou de você desde que nasceu, não é mesmo?
- Sim...
- E por que você foi embora com ela?
- Celine chegou do nada na nossa vida e na nossa casa. Não era uma pessoa ruim, mas também não era o que eu queria na vida do meu pai.
- Você não gostava dela?
- Não é que eu não gostava... Mas não tive simpatia de imediato, por assim dizer.
- E hoje?
- Hoje eu a respeito. Ela faz bem ao meu pai. Mas depois da situação que ela criou quando Milena engravidou, passei a ter certo receio com as atitudes dela.
- Por quê?
- Meu pai nunca quis fazer um testamento, mesmo ela insistindo. Isso significa que legalmente, quando ele se for, eu sou o herdeiro legítimo.
- Isso quer dizer que ela não tem direitos sobre a North B.?
- Exatamente.
- Acha que ela pode ter forçado o noivado de você com Milena por este motivo?
- Prefiro pensar que não. Afinal, como eu disse, simpatizo com ela agora.
- Simpatizar não é gostar.
Paramos no portão, que ele abriu com o controle que estava num console no centro do painel.
- Está indo bem. – Ele disse, enquanto eu seguia guiando devagar.
- Como liga os faróis?
- São automáticos. Não precisa ligar.
- Quanta modernidade nesta belezinha – alisei o volante – Me passa as coordenadas do hospital, por favor.
- O da rua Marco 0.
Eu ri:
- Como não seria, não é mesmo?
Era o hospital mais caro do país. Nunca passei nem pela frente dele. Imaginei que se Salma tivesse dado a luz lá, talvez tivesse uma chance a mais e não teria morrido. Ela deveria ter contado a verdade a Heitor. E ele teria lhe oferecido toda assistência possível. Mas eu nunca saberia se poderia ter sido diferente, porque ela escolheu esconder de todo mundo a verdade.
Eu tentei contar a verdade sobre Maria Lua. Ele não acreditou. E agora não era hora de continuar o assunto. O pai dele estava doente. Eu precisava esperar e seguir os planos, com provas.
- Heitor, você acha que vamos ficar juntos agora?
- Quer um pedido oficial? – Ele riu, balançando a cabeça.
- Talvez fosse correto. Sou uma moça decente. – Olhei na direção dele e pisquei.
- Devo pedir sua mão a quem? Ben?
- Ben, minha avó... – levantei os ombros. – Por que convidou Ben para trabalhar com você?
- Porque ele é um linguarudo. – Ele começou a rir, colocando os braços cruzados atrás da cabeça.
- Não me diga! E o que exatamente você precisava saber pela boca dele?
- Não sabe mesmo? – Virou a cabeça na minha direção.
- O que você viu em mim? – Olhei-o de relance.
- Talvez o mesmo que “você” viu em mim. Acha que tem explicação?
- Não... Não há. É só um sentimento que não tem como descrever a intensidade – sorri – Estou cansada das idas e vindas. Posso quase estar admitindo que não vivo sem você. E que se deixar a loira do pau do meio definitivamente, eu sou capaz de... – Calei-me imediatamente.
- De...
- De qualquer coisa por e com você, Heitor.
- Inclusive morar na minha casa?
- Sim... Se você cobrir a piscina, o ofurô, retirar a escada, levantar as coisas quebráveis e perigosas e providenciar outros dois quartos para hóspedes permanentes. Precisa também lembrar das redes de proteção por todos os lugares: janelas, sacadas e seja lá o que mais tem naquele lugar perfeito e ao mesmo tempo extremamente perigoso.
- Eu receberia a chave da adega novamente? – Ele riu, divertidamente.
- Sim, claro que sim. Só não poderia beber. Brindaríamos à felicidade com o Bárbara Perrone e... Eu disse mesmo isso?
- Disse... E nem está bêbada – ele riu novamente – Você é hilária...
- Continuando: depois do brinde com o Bárbara, “da Perrone”, você pararia de beber para sempre. Comandaria a North B., arranjaria alguém de confiança para cuidar da Babilônia... E não seria Cindy. Eu ficaria em casa, cuidando da nossa filha, com a ajuda de Nic, que deve ter experiência. Mandy viria nos visitar vez ou outra. Seu pai, divorciado de Celine, adoraria a neta... – sorri – Sebastian e Milena também frequentariam nossa casa e poderíamos chamá-los para padrinhos da nossa menina. Estaríamos ao final de todos os dias cansados, mas ainda assim nos amaríamos completamente, como no primeiro dia. Faríamos amor sem pressa, fazendo juras de amor... E saberíamos que quando o dia nascesse, estaríamos um ao lado do outro. E acho que eu ia querer um Maserati também. E você teria que me dar, porque ninguém me emprega nesta porra de país.
Ele riu:
- Se você não bebeu, usou drogas.
- Quase fiz isso... Há um tempinho atrás – confessei – Por sorte, uma voz do além me impediu.
- Está falando sério?
- Sim. Não só sobre a droga... Mas sobre o restante também... Cada palavra.
- Bárbara, por qual motivo você quase usou drogas?
- Passei por momentos difíceis.
- Talvez meu uísque seja um melhor remédio, meu amor.
- Não... O melhor remédio é enfrentar tudo de cara limpa.
Estacionei o carro em frente ao hospital. Desliguei e puxei o freio de mão, olhando para ele:
- E então?
- Aceito suas condições. Mas tenho algumas poucas reivindicações.
- Eu estava falando de como me saí como motorista.
- Ah, sim, sim. – Ele balançou a cabeça.