- Então, podemos fechar negócio? – Perguntei a Danilo, o responsável por uma das boates mais famosas dos Estados Unidos.
- Pelo visto você está com pressa – ele riu – Não vamos brindar a isso com um drinque?
- Realmente não vou beber. E sim, estou com um pouco de pressa. Minha vida tem estado uma loucura dos últimos tempos.
- Por isso mesmo deve beber. – Insistiu a morena com peitos arredondados, quase saindo para fora do vestido, sentada ao lado dele.
- Algo aqui lhe interessa, Casanova? – Danilo sorriu sarcasticamente, enquanto acompanhava meu olhar.
Fiquei um pouco constrangido. Mal sabia ele que eu não me interessava. Simplesmente observei, porque era impossível não olhar peitos quase saltando na sua frente. Parecia até proposital.
- Thorzinho agora é um homem de família. – Cindy riu debochadamente, cruzando as pernas quase por cima de mim.
Caralho, quando aquilo ia acabar? Eu estava cansado daquela conversa, embora soubesse que precisava resolver aquilo de uma vez e negócios geralmente demoravam para serem fechados, mesmo que eu já estivesse tratando daquilo há um bom tempo.
- Um homem de família? Como assim? Eu não ouvi falar nada disso. – A morena me indagou, apoiando os cotovelos na mesa, deixando aparecer parte das aréolas escurecidas na parte do tecido que caía por seu seio.
Se fosse outro homem talvez ficasse impressionado. Não era o meu caso. Já tive mulheres se oferecendo para mim completamente nuas. Parte dos peitos dela aparecendo não eram nada frente há tudo que já vi e vivi.
- A exposição da minha vida pessoal ficou no passado. Enquanto eu puder, vou deixar minha mulher e minha filha no anonimato... E em segurança.
Minha filha? O quê? Eu falei isso mesmo? Não, não foi proposital... Foi da boca para fora, sem pensar, sem me dar em conta...
- Você tem uma filha? Eu... Não sabia, amigo. – Danilo levantou e bateu no meu ombro, o corpo sobre a mesa.
Enruguei a testa, não confirmando. Não sabia se estava sendo uma boa companhia naquela noite. Olhei no relógio. Eu só precisava que ele assinasse aquela porra e me deixasse livre para voltar para casa. Não fazia muito tempo que eu havia chegado, mas já estava com saudade da minha desclassificada.
A Babilônia sempre foi o lugar onde me sentia mais feliz e que me deixava à vontade, livre de todas as loucuras do dia a dia. Agora eu começava a gostar do meu apartamento e das companhias que eu tinha lá. Como se voltar para casa sempre fosse a melhor parte do dia. Até o som ensurdecedor me incomodava naquela noite, como se a música estivesse dentro da minha cabeça, martelando.
- Então... Vamos assinar? – Propus mais uma vez.
- Eu... Trouxe minha amiga aqui como agradecimento por você nos confiar o que tem de mais precioso – Danilo olhou para Cindy, que lhe sorriu sedutoramente – E penso que seria justo eu provar a eficiência do que estou levando. – Deixou bem claro suas intenções.
- Neste caso, Danilo, agradeço seu... Presente – será que eu poderia descrever aquela mulher daquela maneira? – Mas não vou desembrulhá-lo – garanti – Tenho outro compromisso importante me aguardando – menti (ou não, afinal, Bárbara era um compromisso importante, mesmo que eu a visse todos os dias) – E...
Eu diria que tinha pressa. Mas olhei na direção da pista e tive a impressão de ter visto a minha mulher lá. Balancei a cabeça e fechei os olhos e ela desapareceu. Será que eu estava tendo visões com Bárbara Novaes? Porra, aquela mulher me deixava literalmente louco, prestes a ser internado em um sanatório.
- Eu... Quero que decida se vai querer selar o contrato e levar a melhor dançarina de pole dance que já ouvimos falar... Ou então vou fechar com uma boate em Dubai, que o próprio dono já entrou em contato comigo. – Blefei.
- Não, eu realmente quero fechar o negócio. É desejo meu e de meu sócio. Creio que a Babilônia seja um dos nomes mais lembrados quando se fala em casas noturnas atualmente.
- E isso a nível mundial, como bem sabe. – Enalteci meu negócio.
- Vamos fechar agora!
- O contrato já está pronto e revisado. Vou ligar para meu advogado trazê-lo. – Peguei o celular do bolso.
Antes que eu realizasse a ligação, vi Ben ao meu lado, com três drinques nas mãos, quase virando tudo, mesmo andando com cuidado. Será que ele nunca ouviu falar em bandeja?
Olhei para ele, enrugando a testa, incapaz de prestar atenção em qualquer coisa. Que porra era aquela?
- Boa noite, pessoal. Sou Ben! Vim lhes oferecer um pouco de alegria – ele colocou as bebidas sobre a mesa – Já me certifiquei do que cada um gosta... Cosmopolitan para as moças lindas... Dry Martini para o gatão aqui – distribuiu os copos – E para o desclassificado... Água – retirou do bolso de trás da calça uma garrafa pequena de água com gás, colocando na minha frente.
- Dry Martini? – Danilo perguntou, olhando a garrafa de uísque caríssima na sua frente – Quem não gosta de Dry Martini? – encolheu os ombros, sorrindo.
- Por isso mesmo este veio para o gatão! – Ele gesticulou com os dedos, imitando um gato.
- Cosmopolitan? – Cindy olhou o copo – Como sabia que era o meu preferido?
- Segredo, cherry. – Ele piscou.
Cindy bebeu o restante de uísque que tinha no copo e depois foi para o Cosmopolitan.
- Devo providenciar mais, ladies? – Perguntou.
- Eu quero mais. – Falou a morena.
- Eu também. – Cindy confirmou.
Ele foi saindo e eu levantei, quase correndo atrás dele. Puxei-o pela blusa, quando ele já estava descendo a escadaria:
- Que porra é essa?
- Eu... Só estou tentando ajudar. – Explicou, um sorriso cínico.
- Ajudar ou atrapalhar meu negócio? De que lado você joga, afinal?
- De que lado “você” joga, Thorzinho. – Ele disse, cutucando meu peito com força, usando o dedo indicador.
- Isso é... Agressão? Ou estou entendendo errado? Parece que tentou me machucar, Bem!
- E não devo, desclassificado? O que faz com a loira do pau do meio de novo? O que pensa que minha amiga é? Eu tento defendê-lo, mas confesso que às vezes fica bem difícil.
Eu tinha que me explicar logo ou ele contaria tudo para Bárbara, do jeito que tinha entendido: errado. E como eu bem a conhecia, ela não me daria nem chance de falar.
- Caso ainda não tenha se dado em conta, eu sou louco pela sua amiga. E estou aqui, com estas pessoas, inclusive Cindy, justo por ela. Porque Bárbara me colocou contra a parede, caso não saiba. Então foda-se o que Cindy Connor proporciona de lucros para a Babilônia.
- Como assim?
- Estou fechando uma nova filial da Babilônia em Las Vegas. Cindy vai de brinde. Aliás, um brinde caro... Muito caro. Em troca, estarei fechando a filial de Noriah Norte, deixando a de Vegas como única autorizada a usar o nome da Matriz. E adivinha? Não levo nada de lucro em cima disso.
- E como se livrou tão fácil de Cindy? Ela aceitou assim, do nada?
- Do nada? – eu gargalhei – Acha mesmo que Cindy sairia sem nada? Ela vai receber parte dos lucros das duas Babilônias... Para sempre.
Ben ficou me encarando, sem dizer nada.
- Acha mesmo que eu não sou um bom homem? Eu sou o melhor de todos, senhor Benício. – Provoquei.
- Tudo, menos Benício, chefinho. Sim, você é absolutamente perfeito. E quer saber? Bárbara teve sorte... E nem sei se... Ah, porra.
- O que foi?
- Eu... Preciso ir... Correndo, rápido, voando.
- Onde?
- Caralho... Isso vai dar ruim... – Ele desceu as escadas tropeçando em todo mundo que encontrou pelo caminho.
Peguei o celular e liguei para o meu advogado, que já esperava dentro do escritório da Babilônia, com o contrato pronto para ser assinado.
Assim que voltei para a mesa, enquanto aguardava o contrato, Cindy levantou, passando pela minha frente, o vestido colado ao corpo e curto quase mostrando sua calcinha:
- Eu... Preciso tirar a roupa.
- Tirar a roupa? – Perguntei, confuso.
- Já passou dez minutos da minha entrada. Gosto de atrasar... Mas não tanto. Vou... Tirar a roupa... Já estou com o que vou usar por baixo. Os últimos shows serão inesquecíveis – Ela piscou.
- Vai fazer pole dance com strip-tease? – Arqueei a sobrancelha, pouco me importando se ela achava que aquilo poderia me trazer algum problema. Pelo contrário, acho que daria ainda mais ibope.
- Eu... Porra, preciso ir ao banheiro! – Ela correu, com o vestindo subindo, a calcinha fio dental completamente à mostra.
Olhei no relógio. Dez minutos de atraso e o pessoal seguia parado, olhando para cima, esperando o palco descer e ela aparecer. Seria uma grande perda profissional. Eu esperava encontrar uma atração tão boa quanto a loira do pole dance.
- Essa mulher é muito gostosa. – Danilo disse – É boa de foda?
- Faz tudo que você ordenar. – Falei desinteressadamente.
- Estou louco para prová-la.
- Certamente fará isso hoje mesmo. – Falei certo de que Cindy faria sexo com ele.
Eu já fui aquele tipo de homem. E Cindy jamais deixaria de ser aquele tipo de mulher.
As luzes se apagaram e os gritos histéricos ecoaram por toda Babilônia. As sirenes ligaram e os led’s vermelho piscante foram acionadas.
- Estou ansioso para ver ao vivo e de pertinho o que a gostosa da Cindy Connor sabe fazer. – Danilo falou, excitado.
Virei na direção do palco, que começava a descer automaticamente. O efeito da fumaça branca tomava conta de tudo.
As dançarinas foram aparecendo, todas de costas, com as mãos na cabeça, grudadas aos postes do pole dance. Então começou a tocar a música. Virei, balançando a cabeça, sorrindo: “Arrasa na sua última noite, Cindy Connor”, pensei.
Mas quando ouvi “Queens of New Orleans”, na voz clara de Bon Jovi, levantei, confuso. Desde quando Cindy dançava ao som de Bon Jovi?
Elas começaram a dançar. Cindy parecia mais baixa... E com mais peitos e bunda. A luz ainda não estava refletida diretamente sobre elas. E a do meio não dançava tão habilidosamente quanto as outras, embora não deixasse a desejar, seguindo seu próprio ritmo, sobressaindo-se.
Ela segurou as mãos no poste e ficou de costas, rebolando a bunda perfeita demoradamente, enquanto todos foram a loucura, gritando. Usava um sutiã prateado e uma quase calcinha que brilhava, ofuscando a visão.
- Ela é muito gostosa! – Danilo disse – Vem com o papai... Vou fazer você rebolar no meu pau a noite inteira.
Ela virou de frente e os holofotes foram diretamente nela.
- Bárbara? – Gritei, sentindo o ar faltar.
- Não importa quem é... Quero a gostosa do meio! – Danilo falou, apontando para ela.
- Caralho, eu vou matar você, Bárbara! – Saí correndo, tropeçando em todos à minha frente, quase caindo.
Os seguranças correram atrás de mim, se perdendo entre a multidão. Fiquei cego de ciúme. Um cego que enxergava claramente a “sua mulher” rebolando a bunda para centenas de homens ensandecidos com sua presença quase nua.
Pulei, alcançando o palco e conseguindo chegar perto dela. A desclassificada me colocou de frente para a plateia e grudou o corpo ao meu, nas minhas costas, enquanto desatava o nó da minha gravata, retirando-a, deixando-me completamente sem ação. As mãos desceram pelo meu peito, vagarosamente. Eu conseguia sentir o calor do seu corpo sob o tecido fino da roupa. Quando chegou no meu quadril, ela parou e apertou-me com força.
Mas não parou por ali... A louca virou-me de frente para ela, me encarando, e segurou no meu pescoço, enquanto jogava o corpo para trás, esfregando-se em mim, acabando com qualquer possibilidade de me mover dali sem que todos percebessem o quando eu estava excitado com a minha própria mulher.
- Quer ser meu poste, desclassificado? – Falou quando o corpo voltou, as mãos indo diretamente para minha bunda.
Saí do transe momentâneo, olhando para seu rosto completamente brilhoso de gliter e purpurina, os olhos azuis parecendo mais perfeitos do que nunca, a boca convidativa que quase me fazia esquecer que tinha quase mil pessoas nos olhando:
- Quero ser seu poste... Na nossa casa, sua louca de pedra! – Peguei-a com facilidade, jogando-a sobre meus ombros, a bunda quase tapando minha visão.
Sob as vaias, a desci nas mãos de um dos seguranças, enquanto outro me ajudou. Sinceramente, não entendi como subi naquela altura. Peguei-a rapidamente, sendo escoltado sob os gritos de todos.
A desclassificada não parecia se importar muito em deixar o palco. Sem vergonha, ainda apertou minha bunda enquanto a cabeça pendia nas minhas costas, perdendo a noção de que era uma “mãe de família”.
Parei em frente à porta privativa e avisei Anon:
- Ninguém entra.
- Mas... Ainda tem algumas pessoas nos camarins.
- Retire todos. – Ordenei.
- Para onde os encaminho?
- Para puta que pariu! E ninguém sai daqui com imagens da minha mulher nos celulares.
- Mas... Isso é impossível, senhor Casanova. Como devo proceder?
- Quebre as porras dos celulares. – Falei entredentes, já imaginando os marmanjos compartilhando Bárbara seminua em todos os grupos de mensagens.
- Mas...
- Dê novos aparelhos a todos... De última geração, os mais caros que encontrar.
- Vai falir, Thorzinho. – Ben chegou eufórico, quase sem ar, escorando-se em Anon.
- Ok, Ben... Resolva a situação e eu o promovo a gerente da Babilônia.
Ele arregalou os olhos:
- Como assim? Isso é sério, Thorzinho?
- Sério. Não quero sequer uma foto de Bárbara naquela porra de palco.
- Ok. Vamos, lá Anonzinho! Vá até a portaria e proíba a saída de todos – ele bateu palmas – Bora botar ordem nesta espelunca – virou-se para o corredor e gritou – A festa acabou, povo! Babi botou fogo no parquinho! E Thorzinho mandou descer a grana de jatinho – ele olhou na minha direção – Ela vai falir você, baby.
- Já está falindo! E não é só em dinheiro.
- Isso é o que acontece quando Bárbara entra na vida de alguém... Ela fode tudo...
- Se fode... Perfeitamente, como ninguém! – Tranquei a porta pelo lado de dentro enquanto ela cantava:
- D-e-s-c-l-a-s-s-i-f-i-c-a-d-o, num ritmo que nunca ouvi na vida.